ELIPHAS LEVI
Por Prof. Guilherme Fauque
Dentre os grandes mestres do
pensamento ocultista figura alguém do qual é quase impossível não se falar nos
dias de hoje quando nos referimos a tradição magista contemporânea. Ele foi um
dos grandes nomes do esoterismo ocidental, além de um grande iniciado na Alta
Magia. Escreveu obras que até hoje, mais de um século depois de sua transição,
ainda é leitura obrigatória a todo pesquisador das artes mágicas que se prese.
Estou falando de ninguém menos do que Alphonse Louis Constant (1810-1875), ou,
mais comumente chamado de Eliphas Levi.
Vivendo em uma época onde já não mais
precisava se preocupar com as garras da mal fadada inquisição, ainda assim,
Eliphas Levi vivia em um momento marcado pela repulsa aos temas ocultistas pela,
então crescente, ciência materialista. Desta feita, embora não sofresse perigo
de morte mediante a Inquisição, sofreria com a repulsa científica às suas pesquisas.
Curiosamente, Eliphas Levi iniciou-se
na busca espiritual, aos 10 anos de idade, num presbitério de Saint Louis,
onde foi apresentado aos rudimentos do Catolicismo. Aos 15 foi admitido ao
Seminário de Saint Nicolas du Cardonnet em regime de internato. Aos 20
anos foi enviado ao Seminário de Issy, onde estudou Filosofia e, dois anos
depois, iniciou seus estudos em Teologia em Saint-Sulpice, sendo, por fim,
ordenado subdiácono.
Neste momento, Levi foi incumbido de
ser o catequista de um grupo de meninas, onde veio a conhecer Adéle Allenbach,
uma adolescente enfermiça, porém, conta-se, de uma beleza virginal.
Levi tomou-se de uma paixão terna
pela moça. Contudo, não a desejava como mulher, mas a venerava como uma deusa,
num típico caso de amor platônico.
Logo, Levi foi ordenado Diácono e, um
ano depois, nos seus 26 anos, prestes a se tonar um sacerdote, confessou aos
seus superiores o seu amor platônico por Adéle Foi então que sofreu um
duro golpe. Levi foi afastado da vida religiosa. Para piorar seu suplício, a
mãe de Levi, ao receber a notícia do afastamento do filho da vida religiosa,
acabou suicidando-se.
Longe da vida religiosa, trabalhou como
pintor e jornalista por algum tempo. Mas, em 1839, três anos após sua expulsão
da Igreja Católica, ingressou na comunidade Solesmes, onde debruçou-se sobre os
livros estudando sobre os primeiros padres da Igreja, sobre o Gnosticismo e,
pela primeira vez, tendo contato com livros de cunho ocultista. Estas novas concepções
espiritualistas abriram a mente do jovem Levi, libertando-o de ideias agrilhoadas
que até então tinha.
Assim, com novas concepções sobre a
espiritualidade, Levi abandonou Solesmes e procurou ganhar a vida com empregos
conseguidos aqui e acolá. Contudo, sua grande vontade, agora, era escrever um
livro revelando as descobertas de fé que havia adquirido, libertando as pessoas
dos dogmas arraigados de uma fé distorcida.
Levi publicou um audacioso livro
chamado A Bíblia da Liberdade, que lhe rendeu uma multa de 300 francos e
8 meses de prisão. No entanto, isso não dissuadiu Levi de desvendar os
mistérios e dogmas da fé. Aos 31 anos publicou O Livro das Lágrimas.
Logo, Levi veio a casar-se com Marie
Noémi, com quem teve uma filha que nasce enfermiça, tendo sobrevivido
somente até os 7 anos de idade, causando grande sofrimento a Eliphas Levi,
levando, provavelmente, a separação do casal em 1854.
Para aplacar seu sofrimento, dedicou-se
aos seus estudos, onde estreitou laços de amizade com o grande ocultista inglês
Edward Bulwer-Lytton, escritor da novela iniciática Zanoni. Consta que iniciou-se
e realizou experiências mágicas junto a Lytton, mas, obviamente, manteve-se em
silêncio sobre isso. Embora não possamos saber ao certo, diz-se que juntos, em
um final de semana de julho de 1854, realizaram rituais de Alta Magia
envolvendo visões de Cristo, São João e Apolônio de Tiana. Nesse mesmo ano,
Levi fez um retiro para dedicar-se ao estudo da Cabalá, na qual descobriu ser
uma grande síntese religiosa, filosófica e científica da ciência mágica
tradicional do Ocidente, representada no Livro de Toth, com suas 22
páginas (os 22 arcanos maiores do Taro) em correspondência com as 22 duas
letras do alfabeto sagrado (Hebraico).
A título de curiosidade, foi neste
mesmo ano de 1854 que nasceu o grande ocultista Samuel Liddel Matters, fundado
da Ordem Hermética da Golden Dawn, que revolucionou o ocultismo ocidental.
Como resultado dos estudos de Levi
tivemos as suas mais representativas obras: Dogma e Ritual de Alta Magia, História
da Magia e Chave dos Grandes Mistérios.
Levi viveu uma vida digna e humilde,
dedicado aos estudos, a prática espiritual e ao silêncio. Morreu aos 65 anos,
em 1875, rodeado de amigos e contemplando serenamente um crucifixo.
Neste mesmo ano nasceram Carl Gustav
Jung, Edward Alexander Crowley e deu-se a fundação da Sociedade Teosófica.
Referência para este artigo:
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual de alta Magia. São Paulo:
Madras, 2018.
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